quarta-feira, 7 de abril de 2010

Reflexão teológica sobre o texto: A pergunta pela verdade.

MUELLER, E. R. Teologia cristã em poucas palavras. São Leopoldo: EST, 2005, pp. 15-41.
Por Claudecir Bianco

No livro Teologia Cristã de Enio R. Mueller, o primeiro capítulo trata sobre a pergunta pela verdade. Para o autor, a própria Teologia tem a ver com a verdade. Logo nas primeiras linhas traz a pergunta: Mas o que é verdade? Argumenta que a verdade está em afirmar que aquilo que se diz corresponde à realidade do assunto sobre o qual se está falando. Dessa forma, a verdade acaba limitada a algo com que a razão pode concordar.

Na continuidade de sua reflexão utiliza de subtítulos onde aborda pontos muito interessantes como, por exemplo, a Verdade como conhecimento e como existência. Neste ponto diz que a verdade é a exatidão de determinadas formulações em contraste com outras. Que o “inconsciente cognitivo” se refere à dimensão cognitiva da verdade; da verdade como conhecimento e que se deve falar da dimensão existencial da verdade como modo de existência.

Estas duas dimensões muitas vezes têm sido separadas e até tratadas como alternativas. No entanto o que as une é justamente o nível “subterrâneo” da dimensão cognitiva, ou seja, o nível do inconsciente cognitivo. Segundo a autor é nesta dimensão que se sedimentam as metáforas que não só guiarão o jeito de conhecer as coisas, mas também as avaliações e as direções que serão dadas à existência do sujeito.

Depois de várias argumentações, procura identificar na bíblia, as definições ou esclarecimentos sobre sua tese abordando o conceito de Verdade no Novo Testamento. Segundo seu pensamento, o Novo Testamento reconhece a noção cognitiva de verdade propositiva, mas que nesta dimensão, seu conteúdo, situa a pergunta pela verdade fundamentalmente no segundo nível.

Jesus utilizava de parábolas para chamar a atenção de seus ouvintes para as metáforas originárias de seu pensamento e conduta, colocando-as em questão e desafiando-os à sua adaptação ou substituição por novas metáforas onde representariam a proposta do anuncio do Reino de Deus. Na dimensão cognitiva, Jesus apontava para o nível mais profundo do inconsciente cognitivo, das metáforas que davam origem ao pensamento.

Assim, diz haver um caminho que leva à verdade e, esta verdade, então, não é algo de que se tem posse, mas um rumo em direção ao qual se anda. Dessa forma, a verdade do evangelho é um caminho andado dentro de uma relação com o mesmo, por um lado é o rumo, meta deste caminho e, o jeito que se anda é que vai definir a verdade. Traz o significado da palavra “ortopodia”, que é o jeito que se anda é que define a verdade e não, somente, ou, isoladamente outros termos já conhecidos dos cristãos como a “ortodoxia” e a “ortopraxia”.

Para Mueller a “ortopodia” revela o conteúdo do Novo Testamento com relação explicita com a verdade. Mas, há de se tomar cuidados com as afirmações contundentes para uma ou, para outra interpretação, que conseqüentemente levarão à práticas, também extremas, para não incorrer em novos erros.

O terceiro subtítulo, destacado pelo autor é a Verdade como caminho. Neste ponto ele ainda busca esclarecer, de forma ainda mais clara, o termo “ortopodia”, destacado anteriormente. Diz que lhe parece estar – a definição – na dimensão cognitiva, encontrando-se assim, no nível das metáforas fundantes do pensamento e da prática, e não ao nível de um ou outro destes. Essa afirmação e argumentação, apresentada pelo autor, é um elemento desafiador para o fazer Teológico nos tempos atuais.

Mueller desafia o leitor a pensar que, neste ponto se dá o começo da percepção da verdade e, que isso, leva o sujeito, a um processo de conversão radical que, conseqüentemente o levará ao processo do discipulado, iniciado e mediado continuamente por Jesus, transformando-o em discípulo. Afirma ainda, que a verdade só se faz e só deixa apreender no próprio caminho, que não é apenas conceitos e nem mesmo práticas isoladas, mas que é necessária a mudança das metáforas.

Finaliza a argumentação deste ponto citando uma prédica de Paul Tillich: “E mesmo que pudesse recitar a Bíblia toda, se não tivesse nada desta vida [que é a verdade]; e outra pessoa soubesse apenas uma palavra bíblica e a tivesse vivido, ela teria a verdade e tu a mentira”.

Na seqüência, o autor descreve sobre a Verdade e verificação. Neste ponto pode haver confrontação da exigência de validação ou de verificação da verdade. A profecia autêntica deve se verificar na história, e este é o seu critério de autenticidade. Naturalmente, os critérios são teológicos e podem não ser os mesmos que a ciência usa para verificar a sua noção de verdade.

Assim, não se trata da forma como fazemos as coisas ou de como pensamos ou sentimos, e sim de como caminhamos, como somos, como vivemos. Continua com o próximo subtítulo: O caminho de Jesus como critério de verificação da verdade cristã. Diz que é diante deste critério que todos os textos e todas as proposições devem ser justificadas e que o caminho do cristão se dá no espelho do caminho do Cristo. Entre a fé na obra salvífica irrepetível de Cristo por nós e a imitação de Cristo e, que a verdade do evangelho, se vive e se verifica na vida das pessoas que com ela se relaciona.

Segue para sua conclusão do capítulo, argumentando que em nome de tal verdade, excluímos quem pensa localizar a verdade em lugar diferente que não seja no Novo Testamente. Afirma que os cristãos fazem uma falsa imaginação do que seja a verdade contida no Novo Testamento, e que este conteúdo vem como juízo também sobre a forma do que seja a verdade e de como nos relacionamos com ela. Que este ensino e do cerne do cristianismo, que exige conscientização, arrependimento e desejo de mudança. Não cada um querendo mudar o vizinho, mas cada um vendo como deixa mudar a si próprio, na expectativa de que o vizinho faça o mesmo. Para que o cristão não seja acusado de não caminhando retamente na verdade do Evangelho.

Texto profundo e rico em conteúdo. O autor apresenta clareza nas argumentações e nos leva a refletir com propriedade no conceito do que é realmente a verdade. Não deixa fora de sua argumentação, possíveis esclarecimentos sobre como algumas pessoas definem a verdade, mas conduz o leitor para a identificação de como a Bíblia entende por verdade.

Mostra-nos que muitos erros aconteceram quando a Igreja, a Teologia e os próprios cristãos quiseram limitar o conceito sobre a verdade, assumindo um único termo e, excluindo de certa forma o “viver a verdade” no dia-a-dia. É preciso ao afirmar, na primeira frase, que a Teologia tem a ver com a verdade.

Na seqüência, vai desmistificando o real significado desse conteúdo que muitos alegam ter, mas que na sua essência, nem se quer saber definir ou, como argumenta Mueller, não sabem viver, caminhar na verdade.

Sem dúvidas, a percepção do autor ao trabalhar este conteúdo, mostra que estamos, como cristãos, bem distantes do centro deste ensino. Talvez pela igreja estar buscando outros objetivos que não aqueles descritos na própria Palavra de Deus, abandonando assim, a possibilidade real de transformação que o Evangelho traz ao ser humano. Talvez pela igreja estar mais focada em métodos e princípios humanos, não se consegue ver mudanças significativas na sociedade. Talvez por nós mesmos, nos preocupar com o outro, não no sentido de ajudá-lo, mas de acusá-lo de vários defeitos.

O Evangelho é o poder de Deus para transformar o homem e não uma fórmula para encher espaços e ampliar cada vez a arrecadação. Cada vez mais as justificativas para as ações humanas dentro das igrejas, mostram que muitas pessoas estão perdidas no entendimento, não só do que é a verdade, como esclarece Mueller, mas principalmente por desconhecer quem foi que ensinou o seu verdadeiro significado.

Precisamos a cada dia, demonstrar atitude de arrependimento, assim como disse o filho pródigo: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. (Lucas 15.21). O arrependimento que leva a uma ação que agrada o Pai, o Pai, rico em Amor e Graça, aceita e nos transforma, para que frutifiquemos até que Ele (Jesus) venha!

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