segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

AÇÃO DO HOMEM E AÇÃO DE DEUS!

Reflexão sobre a prática da Missão Integral
Claudecir Bianco

Alguns dias depois, Jesus voltou para a cidade de Cafarnaum, e logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa.
Muitas pessoas foram até lá, e ajuntou-se tanta gente, que não havia lugar nem mesmo do lado de fora, perto da porta. Enquanto Jesus estava anunciando a mensagem, trouxeram um paralítico. Ele estava sendo carregado por quatro homens, mas, por causa de toda aquela gente, eles não puderam levá-lo até perto de Jesus. Então fizeram um buraco no telhado da casa, em cima do lugar onde Jesus estava, e pela abertura desceram o doente deitado na sua cama.
Jesus viu que eles tinham fé e disse ao paralítico: — Meu filho, os seus pecados estão perdoados.
Alguns mestres da Lei que estavam sentados ali começaram a pensar:
“O que é isso que esse homem está dizendo? Isso é blasfêmia contra Deus! Ninguém pode perdoar pecados; só Deus tem esse poder!”
No mesmo instante Jesus soube o que eles estavam pensando e disse: — Por que vocês estão pensando essas coisas?
O que é mais fácil dizer ao paralítico: “Os seus pecados estão perdoados” ou “Levante-se, pegue a sua cama e ande”?
Pois vou mostrar a vocês que eu, o Filho do Homem tenho poder na terra para perdoar pecados. Então disse ao paralítico:
—Eu digo a você: levante-se, pegue a sua cama e vá para casa.
No mesmo instante o homem se levantou na frente de todos, pegou a cama e saiu. Todos ficaram muito admirados e louvaram a Deus, dizendo: — Nunca vimos uma coisa assim! (Marcos 2.1-12 – NTLH)

Este texto nos ajuda entender os papéis de cada um quando pensamos na prática da Missão Integral - MI. Muitas vezes, algumas pessoas não “aderem” à prática da MI por achar muito difícil e complexa. Dessa forma o mais fácil e rápido lhe atrai como imã, o Assistencialismo pode ser uma alternativa para estes. No entanto, ao ler a bíblia com freqüência, você irá identificar que Deus, sempre mostrou ao ser humano, qual é o papel DEle e qual é o papel do homem, nas mais variadas situações. Mostrou também que nem sempre as coisas foram fáceis para aqueles que queriam, de fato, fazer Sua vontade e obedecê-lo incondicionalmente.
Pense, por exemplo, em Gideão, quando foi escolhido por Deus... - Então o SENHOR Deus ordenou a Gideão: — Vá com toda a sua força e livre o povo de Israel dos midianitas. Sou eu quem está mandando que você vá. (Juízes 6.14 – NTLH).
Conhecedor dos problemas que haviam assolado seu povo, Gideão obedece ao chamado do Senhor e convoca seus homens para a batalha. No entanto o que parecia “normal” para aquele momento de guerra, Deus surpreende a todos ao limitar a quantidade de pessoas que deveriam ir à batalha:

O SENHOR Deus disse a Gideão: — Você tem gente demais, e por isso não posso deixar que vocês derrotem os midianitas. Se eu deixasse, vocês poderiam pensar que venceram sem a minha ajuda.
Anuncie ao povo o seguinte: “Quem estiver com medo, que saia do monte Gilboa e volte para casa.” Gideão anunciou, e vinte e dois mil homens voltaram. Mas dez mil ficaram.
E o SENHOR disse a Gideão: — Ainda é gente demais. Leve todos até as águas, e ali eu separarei os que irão com você. Se eu disser que um homem deve ir com você, ele irá. Se disser que outro não deve ir, ele não irá.
Aí Gideão fez com que os homens descessem até as águas. E o SENHOR Deus lhe disse: — Todos os homens que lamberem a água com a língua, como fazem os cachorros, devem ser separados dos que se ajoelharem para beber.
Aí o SENHOR disse a Gideão: — Com estes trezentos homens que lamberam a água, eu libertarei vocês e lhes darei a vitória sobre os midianitas. Diga aos outros que voltem para casa. (Juízes 7.2-5,7 – NTLH).

Vemos neste texto que o Senhor age independentemente das circunstâncias. Situações que para nós são inviáveis ou, como pensam alguns, complexas demais, Deus age e nos dá vitórias, mostrando exatamente quais são os nossos papéis e quais são os Seus. Para realizarmos a prática da MI, precisamos ter claro em nossa mente que Deus nos usará e, através de nossa obediência em fazer Sua vontade, Ele agirá.
No primeiro texto descrito acima, no Evangelho de Marcos, vemos claramente o mover de Deus, agora personificado em Jesus, como Ele age e, como quer que seus discípulos façam. São ações práticas, concretas e até mesmo, as mais complexas. Precisamos entender nossos papéis. Vamos ver alguns pontos importantes destacadas no texto do Evangelho de Marcos:

Vejamos que o este texto nos revela:

- O paralítico sente a necessidade de chegar até Jesus, mas não pode fazê-lo sozinho. As pessoas devem reconhecer suas próprias necessidades.
- Os amigos viram a necessidade do paralítico; assim também as pessoas da comunidade devem ver as necessidades umas das outras.
- Os quatro homens estavam dispostos a ajudar, de modo que tomaram a iniciativa e agiram.
- Possivelmente existiu um planejamento.
- Eles trabalharam juntos, cooperaram uns com os outros.
- Persistiram diante dos obstáculos: primeiro, a multidão e depois, dentro da casa.
- Estavam dispostos a correr riscos.
- Demonstraram sua fé através de ações.
- Usaram recursos locais, primeiro, a maca na qual o paralítico estava deitado, depois cordas amarradas num manto para baixá-lo através do telhado.
- Trabalharam em conjunto para carregá-lo e baixá-lo através do telhado.
- O amor é demonstrado por pessoas que agem.
- Pensaram ter obtido sucesso e que seu trabalho já estava terminado ao colocarem o paralítico diante de Jesus; mas é neste momento que podem vir as nossas maiores oposições.
- Jesus mostra que uma pessoa que tem fé é aquela que se preocupa com os outros.
- Normalmente, a cura vem da fé da pessoa que está doente. Neste caso, Jesus honrou a fé de outras pessoas para curar o paralítico.
- Primeiro, aconteceu um milagre invisível; Jesus perdoou os pecados daquele homem. A real prioridade de Jesus era a necessidade espiritual.
- Entretanto, dizer ao paralítico que seus pecados estavam perdoados não o curou fisicamente.
- Jesus tratou tanto do problema espiritual como do problema físico.
- Deus recebeu toda a glória.
Acredito que você poderia acrescentar ainda mais ensinamentos sobre este mesmo texto, mas vamos pensar nas coisas que aconteceram antes daqueles homens virem até Jesus:
- Possivelmente havia prévio conhecimento acerca de Jesus.
- Eles esperavam que alguma coisa acontecesse; havia uma expectativa de sucesso que os motivava.
- Eles cooperaram uns com os outros.
- Eles viram a necessidade do paralítico.
- Possivelmente houve um testemunho sobre Jesus, de modo que as pessoas já tinham ouvido falar sobre Ele.
- Jesus não discriminou ninguém; Ele estava disposto a atender a todos.
Podemos entender que nesta “cena” havia diferentes recursos utilizados para ajudar o paralítico, destaco apenas alguns deles:
- Força física humana.
- A cama ou maca.
- Possivelmente cordas ou cintos.
- Disponibilidade de homens.

Talvez este último recurso seja o principal problema para a prática da MI presente nos nossos dias. A falta de disponibilidade para a elaboração e aplicação de um plano bem definido, muitas vezes nos leva a criar ações de curto prazo por vezes ineficazes e que apenas nos roubam o pouco tempo que dispomos.

Diante do exposto, precisamos entender que se existem necessidades para serem satisfeitas e a visão que Deus lhes deu, deve ser cumprida; assim devemos:
- Entender que as necessidades existem e que podem ser também oportunidades para novas ações.
- Trabalhar juntos, num esforço conjunto, para resolver as necessidades.
- Desenvolver uma estratégia que vislumbre a solução desejada para a necessidade.
- Demonstrar uma fé vital de que podem executar a visão que Deus lhes deu para sua comunidade.

Podemos entender que existiram vários obstáculos a serem vencidos. Um deles estava “dentro da própria casa”, ou seja, aqueles mestres da Lei complicaram ainda mais a situação. Poderiam ter outras reações? Acredito que sim, mas na verdade, optaram pela crítica. Da mesma forma, nos dias de hoje, encontramos pessoas dentro das nossas próprias igrejas que, no lugar de ajudar, se colocam numa posição critica destrutiva, dificultando ainda mais, qualquer ação. No entanto, Jesus nos ensina que precisamos ter o foco em Deus e fazer a obra que nos é proposta. As dificuldades existem, os obstáculos se tornam cada vez maiores, mas as necessidades das pessoas são de ordem física e espiritual. Realizando isso, glorificamos o nome de Deus. Cumprindo o que está escrito... “Devemos amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa mente e com todas as nossas forças e também devemos amar os outros como amamos a nós mesmos. Pois é melhor obedecer a estes dois mandamentos do que trazer animais para serem queimados no altar e oferecer outros sacrifícios a Deus.” (Marcos 12.33 – NTLH); realizamos nossa missão, como filhos regenerados, transformados pelo Espírito Santo.

Um grande mover de Deus, aconteceu em 1974 na Suíça, onde foi elaborado o Pacto de Lausanne . Uma declaração sóbria e amadurecida sobre a MI que, em um de seus artigos, declara: “Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua Igreja e um serviço responsável no mundo.”
Pode-se entender “serviço responsável no mundo” como elemento chave para a Missão Integral. Ainda, no artigo quinto, que trata da Responsabilidade Social Cristã, este pacto faz a seguinte afirmação:
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusiva. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são, ambos, parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta. (Artigo 5, - Pacto de Lausanne.)

A partir deste conteúdo, ações práticas surgiram nas Igrejas e organizações foram constituídas com a finalidade de atender o homem de forma integral, mudando os rumos do protestantismo mundial e consolidando a Teologia da Missão Integral.
Dessa forma, entende-se que a MI da Igreja é profundamente Bíblica, ou seja, significa que ela (a Missão Integral) não deve ser uma filosofia cega ou um modismo passageiro. A Missão Integral da Igreja não é uma ação que ora existe e, logo depois, some ou perde totalmente suas características iniciais. São verdades que precisam ser praticadas em sua totalidade, levando em consideração a relação do ser humano com Deus, consigo mesmo, com seu próximo e com a natureza.

Em 1983, Franklin Graham, em Amsterdã, fez a seguinte afirmação:
“Se olharmos apenas para as necessidades físicas do homem, nos transformamos em humanistas. Se olharmos apenas para as necessidades intelectuais do homem, nos transformamos em educadores. Se olharmos apenas para a opressão política, nos transformamos em revolucionários ou políticos. Se olharmos apenas para as necessidades espirituais do homem nos transformamos em pessoas religiosas. É olhando para o homem como um ser completo, e dando grande importância para área espiritual, é que nos transformamos em testemunhas de Cristo, missionários, evangelistas e comunicadores da Palavra de Deus”.

Caminhando nesta perspectiva, de sermos comunicadores da Palavra de Deus, damos início ao rompimento das cadeias assistenciais que prendem as pessoas. No entanto, como Igreja de Cristo, servos fiéis à verdade que nos liberta, precisamos olhar o ser humano de forma integral.

Ainda, quando pensamos em Assistencialismo entendemos que esse processo fornece ajuda temporária, em curto prazo, feitas por outras pessoas, oprimindo mais do que libertando. Um ambiente positivo, que chamamos de Apoio, de cuidado e ânimo, que influencia as relações, dá um fôlego ou uma experiência positiva no momento ou, no tempo em que a pessoa passa ou, participa daquela ação. Findando o tempo de participação e pessoa está de volta ao seu ambiente, muitas vezes caótico. Assim, entendemos que o Desenvolvimento enfatiza as mudanças mensuráveis no conhecimento, nas habilidades e nos talentos ou condições dos participantes nas ações em que eles mesmos assumem as responsabilidades pelas mudanças. Dessa forma, precisamos entender que o empoderamento deve começar desde as raízes, envolvendo as pessoas e ajudando-as a serem auto-suficientes sob a direção de Deus. O promotor do desenvolvimento não é o responsável pelo desenvolvimento da comunidade. As pessoas são as que devem se desenvolver. O trabalho dever ser realizado de baixo para cima, baseado na comunidade, e não baseado na instituição, ou seja, de cima para baixo. Este é o modelo de trabalho que o Programa de Desenvolvimento Comunitário Integral – PDCI, trabalha, promovendo o desenvolvimento. É, sem sombra de dúvidas, uma excelente ferramenta que consolida a práxis da Missão Integral da Igreja nas comunidades onde Deus a colocou para ser Sal e Luz, libertando os cativos de todas as opressões. Fomentando a promoção humana no mais amplo sentido, levando aos excluídos uma esperança de nova vida, rompendo com o assistencialismo, resgatando as pessoas da dependência social em que se encontram.

Assim, desenvolvemos nosso papel e, Deus cumpre com sua palavra, promovendo a consciência de arrependimento nas pessoas, as quais Ele quer alcançar.

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Claudecir Bianco é casado com Regina, pai de Renata e Rafael. Graduado em Administração de Empresas com ênfase em Análise de Sistemas pela Faculdade Internacional de Curitiba e, em Teologia pela Faculdade Evangélica do Paraná. Atua desde 1996 em atividades sociais. É Coordenador no Brasil do Programa de Desenvolvimento Comunitário Integral – PDCI, Secretário Executivo do Instituto Vida – Desenvolvimento Humano Integral e Inclusão Social. Atua como Presbítero e Missionário através da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Curitiba. Coordenador e Facilitador do Curso de Capacitação para Capacitadores e de Formação de Facilitadores para o Desenvolvimento Comunitário Integral do PDCI. Na linha de Desenvolvimento Comunitário possui capacitação por Embajadores Médicos International em Nicarágua e Argentina. Autor do Curso de Planejamento Estratégico pessoal. Consultor para criação e gestão de ONG’s e projetos Sociais com sua ênfase no Estabelecimento do Shalom de Deus. O PDCI é um método prático para aplicação da Missão Integral. O autor ministra o curso de Capacitação de Capacitadores (CDC) para o desenvolvimento de projetos Sociais com ênfase na restauração do Shalom de Deus. E-mail: calbianco@hotmail.com.



REFERENCIAS
BÍBLIA SAGRADA. Português – Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH - Sociedade Bíblica do Brasil.– São Paulo: 2005.
MONERGISMO – Pacto de Lausanne – Disponível em Acesso em 14 out 2008.

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