quarta-feira, 28 de abril de 2010

Reflexão teológica sobre o texto: Para que somos salvos?

ZABATIERO, J. P. T. (org.) Curso Vida Nova de Teologia Básica. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2006, pp. 101-116.
Por Claudecir Bianco – 28/04/2010

Uma teologia que seja para prática, sintonizada com a espiritualidade, relevante e desafiadora para a missão, não pode deixar de considerar a experiência do Espírito Santo, em toda sua pluralidade, como uma de suas fontes para a reflexão. A teologia deve, simultaneamente, alimentar-se da experiência de fé, servindo de critério para a experiência cristã. À luz da Escritura, temos aprendido que o Espírito Santo une o povo de Deus. Une, mas não uniformiza. Une, mas não pela lei, pela institucionalidade, pelo ministério, pela experiência ou pelo carisma.

O ESPÍRITO SANTO NA VIDA TRINITÁRIA DE DEUS
A compreensão cristã de Deus é teologicamente exigente. Cremos em um só Deus internamente diversificado em três pessoas, noção que não pode ser plenamente entendida nem explicada, mas compõe um dos chamados mistérios da fé cristã, ou seja, doutrinas que só podem ser expressas de forma parcial e analógica (comparativa). Falar de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo é falar de Deus analogicamente, de forma comparativa com as experiências humanas, e não de forma literal. As distinções entre Pai, Filho e Espírito Santo não podem ser entendidas como distinções de grau de divindade, de importância pessoal ou de ascendência hierárquica no tempo ou no espaço.

O ESPÍRITO SANTO: A VIDA DE DEUS NO MUNDO EM QUE VIVEMOS
Como vida de Deus, o Espírito Santo é a vida e a vitalidade da criação. Nada no mundo teria vida sem a presença vivificante do Espírito, sem o fôlego de Deus doado a suas criaturas para que possam viver. Em cosmovisões materialistas, o mundo é visto como material, independente de Deus, não criado nem sustentado por ele. Na concepção bíblica, porém, o mundo é criação divina, e a vida que nele existe é vida doada por Deus, é vida dependente. O Espírito Santo não é Deus agindo de vez em quando no mundo, dando-lhe vida e subsistência. O mundo somente existe porque o Espírito Santo é a energia da vida nele presente. É também mediante o agir do Espírito que a nova criação já está acontecendo, mas ainda não consumada. Como vida de Deus no mundo, a ação do Espírito é invisível e indetectável, a não ser pela fé, que convida ao compromisso de amor à vida por parte de toda criação como uma das manifestações de nosso amor a Deus com toda a mente, coração, alma e forças.

O Espírito Santo e a renovação da humanidade
Assim como o Espírito divino é a fonte de vida da criação, ele é também a fonte de renovação da humanidade no ser humano, como que numa preparação para a salvação em Cristo. Nenhum bem é feito pelo Ser humano de forma independente da ação do Espírito em sua vida. Foi assim que Pedro pôde reconhecer em Cornélio um homem justo e preparado por Deus para a salvação (At 10-11), e reconhecer que as divisões religiosas não podem ser entendidas de forma absoluta. Os impuros também pertencem a Deus, e Deus age em seu meio, renovando-lhes a humanidade e preparando-lhes para a plena salvação. Por mais ambíguas que sejam as ações renovadoras do ser humano na história, nenhuma delas pode ser separada do Espírito de Deus.

O Espírito Santo e a vida redimida da criação
A plena ação renovadora do Espírito, porém, constitui-se na criação do povo de Deus, na transformação das pessoas mediante a fé em Cristo Jesus, que as leva a participar do corpo de Cristo, bem como se constitui na nova criação de todas as coisas. Vinculado a sua ação na vida do Filho encarnado, o Espírito é a pessoa da Trindade que concretiza a obra do Filho na humanidade. Em outras palavras, sem o agir do Espírito, a salvação ofertada por Deus em Cristo Jesus, não pode ser entendida, recebida, nem vivida pelas criaturas de Deus. A eficácia do testemunho do evangelho não reside na estratégia evangelística, na estrutura da igreja ou nos recursos utilizados na pregação, mas sim, está na ação do Espírito Santo, que vivifica a palavra e o testemunho, tornando-os concretos na vida de quem responde afirmativamente ao convite de Deus.

O Espírito Santo: a vida de Deus na igreja em que servimos
O Espírito equipa para uma correta tarefa profética, já não mais reservada a alguns, mas aberta a todos, sem qualquer distinção de raça, língua, classes sociais, sexo ou idade. O novo povo de Deus, como o antigo Israel, foi formado para testemunhar e vivenciar na terra a missio Dei (missão de Deus): levar a cabo a redenção da humanidade e de toda a criação. Como povo missionário de Deus, a igreja é vocacionada para viver como protótipo do reino, como primícias do reino, dando testemunho, por palavras e atos, daquilo que Deus, no Espírito, está fazendo para salvar sua criação. Como povo missionário de Deus, a igreja se reúne ao redor da Palavra para aprender a amar a Deus e a dar testemunho do evangelho do Reino em todo o mundo. O reunir-se da igreja só faz sentido após o espalhar-se missionário do povo de Deus. As ordenanças, ou sacramentos, só fazem sentido nesse movimento dinâmico de sair e voltar – sair para testemunhar, voltar para celebrar e aprender para novamente sair ao mundo dando testemunho do evangelho.

A Igreja: povo carismático de Deus
Na tradição paulina do Novo Testamento, a natureza missionária da igreja é descrita mediante a terminologia da graça – a igreja, corpo de Cristo, é a comunidade carismática do Espírito (caris, em grego, é “graça”. De caris, deriva carisma, efeito da graça, dom, dádiva, “carismática” é a comunidade caracterizada pela graça e seus efeitos). A natureza da igreja deriva da graça de Deus demonstrada em Cristo Jesus. O carisma fundamental da igreja é o presente da salvação e da comunhão com Deus. Desse carisma fundamental derivam todos os demais carismas (efeitos da graça) recebidos e vivenciados pela comunidade de seguidores de Cristo. Como comunidade da graça de Deus, a igreja é missionária e realiza sua missão por meio da diversidade dos dons, dos serviços e das manifestações da plena graça de Deus em sua vida. Como comunidade carismática, a igreja tem um único Senhor: Jesus Cristo. Ele é o cabeça do corpo, da igreja. Não somente o cabeça, entendido como líder, mas a cabeça – fonte de vitalidade, energia, direção, unidade e ação para todo o corpo. Sob o senhorio de Cristo, a multiplicidade dos carismas pode ser vivenciada sem romper a unidade do povo de Deus. Como comunidade carismática das pessoas batizadas no Espírito, o exercício dos carismas não pode ser dissociado da prática do amor e da santidade. Sem os carismas, não há edificação da igreja, sem edificação da igreja, não há crescimento no fruto do Espírito e na santidade. Sem a frutificação do Espírito, os carismas não servem para a edificação; não edificando o corpo, os carismas não são manifestações do amor gracioso de Deus, e a igreja não cresce adequadamente em quantidade e qualidade. Como comunidade carismática, a igreja não perde sua vinculação com a humanidade. Em outras palavras, os dons, os serviços e as manifestações da Trindade não podem ser entendidos de forma dissociada dos talentos e das capacidades que, no ato criador, Deus outorga a cada uma de suas criaturas. Conseqüentemente, tudo o que a igreja faz – oração, adoração, educação, organização, evangelização, comunhão e serviço – é expressão da graça de Deus e deve ser realizado na força e sob direção do Espírito Santo, e isso significa que será realizado mediante a cooperação de cada membro, cujo carisma está a serviço da edificação de todo o corpo. É a energia do Espírito, é a santidade do Espírito, é o amor do Espírito que se concretizam o senhorio de Cristo e a soberania do Pai entre o povo de Deus. Mediante o exercício da diversidade dos carismas, na unidade da fé e na mutualidade do amor, a igreja se realiza como comunidade carismática que dá testemunho da missão salvífica do Deus trino e uno.

Reformando a institucionalidade da Igreja
Se a Reforma protestante apresentou principalmente a correção de rumos teológicos da igreja, os avivamentos representaram as correções de rumos comportamentais da igreja e os movimentos de renovação pentecostal e carismática representaram as correções de rumos na dinamicidade da experiência da igreja, ainda necessitamos concretizar a reforma da institucionalidade da igreja – apenas iniciada com a Reforma protestante e seu conceito de sacerdócio universal dos santos, mas jamais concretizada nas denominações protestantes em sua plenitude. A linguagem do poder tem sido então, a linguagem predominante quando se trata de ministérios, e mesmo nas tradições pentecostal e carismática a linguagem do poder é mantida, conquanto se fale mais no poder do Espírito do que no poder eclesiástico. A dádiva do Espírito à igreja é a dádiva da energia, da força para realizar a vontade de Deus, e não a dádiva de um poder político, ordenador, institucionalizante. “Ministrar” significa “servir”, e não “comandar”. Ministro é a pessoa que serve não a pessoa que domina. Ministério é o serviço prestado, e não o cargo superior alcançado. Entretanto, como ainda vivemos no tempo escatológico e o pecado não se eliminou completamente, é necessário um mínimo de subordinação a fim de ajudar a evitar que pessoas se apossem do poder na igreja e o exerçam de forma tirânica, bem como a fim de evitar a falta de harmonia na comunidade missionária. Mais importante do que a forma do governo eclesiástico, porém, é a maneira como o poder é exercido nessa forma de governo. Assim, em quaisquer das formas tradicionais de governo da igreja, se deverão buscar meios, leis e mecanismos que favoreçam o carisma e restrinjam a sede da instituição em abocanhar tudo que vê pela frente. Em segundo lugar, essa compreensão exige que se repense o conceito de ordenação e sua vinculação com as estruturas de poder denominacional. Essa, sim, é uma mudança complexa e urgente a ser pensada e realizada pelas igrejas; senão, o sacerdócio universal continuará sendo uma bela expressão doutrinária, mas sem nenhuma realidade concreta na vida da igreja.

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Esse texto de Julio Zabatiero é muito rico em seu conteúdo. Em minha opinião tudo o que ele escreveu é necessário para a vida na Igreja. Se a maioria dos Cristãos entendesse por que somos salvos, acredito que muitas coisas poderiam ser diferentes na humanidade de forma geral.

Para alguns, como argumenta o autor, querem o poder, e por isso, apresentam posturas distintas em sua administração eclesiásticas. Os que não têm o poder permanecem em determinados grupos até alcançar seus objetivos.

Todavia não podemos negar que o Espírito Santo está agindo mesmo nestas situações. Mas, tudo poderia ser diferente. Menos sofrimento para alguns fiéis e até mesmo para alguns líderes.

O autor é assertivo quando fala sobre o carisma da Igreja, entre outros pontos, mas creio que neste ponto em especial, está as possibilidades para as mudanças. Se não vivermos o “presente” da salvação, enfrentaremos cansaço e stress, no lugar de “servir ao Senhor com alegria”.

Acredito que, de forma geral, estamos equivocados com o que é realmente ser Igreja de Cristo, nos tempo de hoje. Deus está dando um tempo “considerável” para descobrirmos o que isso significa, no entanto, grande maioria dos crentes ainda não compreendeu.

Também concordo quando o autor fala sobre Reforma, mas muitas mudanças deveriam acontecer além das questões do sacerdócio universal. O próprio retorno para a Palavra de Deus. Quantas Igrejas estão suprimindo o estudo aprofundado sobre as escrituras, vivendo da superficialidade contemporânea.

Precisamos como crentes em Cristo, e não, crentes nas instituições, “reconstruir nosso altar espiritual”, buscando a cada momento, pela ação o Espírito Santo que age em nós, entender nosso papel na sociedade e nosso papel no Corpo de Cristo. Como Igreja, precisamos viver um Evangelho mais simples... Aliás, entendemos que o Evangelho é simples, mas a cada dia, complicamos um pouco mais.

O Apóstolo Paulo diz na carta de Romanos, cap. 12, vs, 1 e 2: “não vos conformeis... mas transformai-vos...”
Há ações humanas e há ações de Deus.
As humanas estão cada vez mais colocando Deus para fora da Igreja...
Mas, graças ao Bom Deus, Ele está agindo mesmo com todas as nossas dificuldades.

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