quarta-feira, 7 de abril de 2010

Reflexão teológica sobre o texto: O conceito cristão de Deus.

AULÉN, Gustaf. A fé cristã. São Paulo: ASTE, 2002, pp. 112-135.
Por Claudecir Bianco

Deus é amor. Este é o primeiro ponto que Gustaf Aulén passa a descrever para esclarecer o conceito cristão de Deus. Esse amor está no centro de todo o conceito sobre Deus. Para o autor, alguns cristãos, ou, até mesmo a idéia cristã de Deus é um conceito vago e indefinido, mas a fé cristã tem algo de bem definido a dizer a respeito da relação de Deus com os homens e, por conseguinte, a respeito também do caráter, da vontade e da pessoa divina.

Cristo e sua obra definem de maneira decisiva o caráter de Deus, e que, olhando para o Cristo, a fé vê nele o Deus que se dá ao homem. Novamente, isso significa que o caráter fundamental do conceito de Deus é o amor. Segundo o autor o versículo do Evangelho de João que diz: “Deus é amor” resume não só o que é essencial no Novo Testamento, mas também tudo o que se pode dizer quanto ao caráter da idéia cristã de Deus. Nenhum outro “atributo” divino, seja ele qual for, pode ser coordenado com o amor.

Assim, “nada poderá separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus”. O autor sugere um estudo completo e mais aprofundado do conteúdo da fé cristã para identificações mais claras sobre a natureza do amor divino. Esse amor divino é espontâneo, ele contém em si a sua própria causa, não é suscitado por causas externas, mas irrompe por si mesmo. Esse amor é sempre preveniente, por que a natureza de Deus é amar. Diferente do amor “motivado” do ser humano o amor de Deus é espontâneo e “não motivado”, um amor divino que se dá a si mesmo.

A fim de estabelecer comunhão entre Deus e o homem, Deus desce e se dá aos homens com sacrifício, ele não procura seus próprios interesses, nem se poupa, antes esvazia-se, tornando-se o único caminho para a ida do homem a Deus. Para Gustaf, falar em amor humano no sentido cristão, só pode ser feito quando o amor divino se torna ativo na vida do ser humano e cria esse amor, e que mesmo assim se torna um mero reflexo pálido do amor de Deus.

Algumas pessoas têm dificuldades para entender a oposição entre amor e o mal, talvez, por não entender a natureza do amor Deus. A respeito deste assunto o autor diz que a imagem de Deus como pai no Novo Testamento está longe de ser uma idéia humanizada e frágil a seu respeito, a forma como imaginamos e a relação com o pensamento que temos sobre conceitos humanos de paternidade, trazem essa dificuldade.

No entanto, o amor de Deus atua mesmo na ira. Lutero refere-se ao “amor irado” e declara que ele não destrói como fazem o ódio e a inveja, mas quer simplesmente separar o mal do bem, a fim de que prevaleçam o amor e o bem. Assim, nada poderia se opor ao mal de forma tão decisiva e critica do que o amor. A frase, que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador, é trabalhada pelo autor nos seguintes termos. Segundo ele, essa expressão é de valor duvidoso, pois parte do pressuposto de que o pecado pode ser separado do pecador, e que assim, esse argumento ofuscaria a natureza daquele como perversão da vontade.

Para Gustaf, o mais correto é insistir em que Deus não só odeia como ama ao pecador. Dessa forma Sua ira vincula-se ao Seu amor e Dele depende. Argumenta ainda, que a fé cristã deve sempre considerar a retidão como elemento definidor do amor e não separar retidão de amor, considerado este como elemento coordenado daquela. Mas, pensando em considerações tão amplas do amor divino, pode-se encontrar algumas tensões nos argumentos.

Assim é a luta do amor, que segundo o autor no que concerne à fé, a natureza do antagonismo do amor divino caracteriza-se pelo fato de a cruz ocupar o centro da história das relações de Deus com o homem. O amor divino é um amor que se dá e sacrifica a si mesmo, é algo intensamente ativo. É um amor soberano que não é um destino obscuro e inerte, nem uma simples vontade de poder imprevisível e indefinível, mas única e exclusivamente o poder do amor.

A fé cristã afirma que o poder soberano no universo possui a característica do amor divino. O poder divino é o poder do amor, dessa forma o poder do amor conquista o coração humano. Amor eterno, que não tem relação com o tempo, imutável, amor no presente e no futuro. Amor que será contemplado na vida eterna.

Ainda segundo o autor, tamanha fonte desse amor divino só é possível porque é um Deus vivo e que esta revelação de Deus, se caracteriza pela autodoação divina em forma de atividade. Nada é mais essencial à fé do que o qualificativo “vivo” aposto à idéia de Deus. Assim, o conceito de Deus vivo e claramente definido pela fé cristã, diferindo de todos os conceitos de Deus vazados em orientações “filosóficas” ou metafísicas. Dessa forma os conceitos de Deus surgidos na história: o deísta, que acentua o “transcendental”, e o panteísta que ressalta a concepção “imanentista” de Deus estão em conflito com a fé cristã.

O homem é defrontado com a idéia da causalidade, evadindo-se o conceito vivo do Deus da fé e que a metafísica da imanência tem exercido grande influencia sobre a teologia, dos tempos antigos até os dias de hoje. O autor finaliza, ao falar da personalidade de Deus descrita no Novo Testamento afirmando que, o termo “pessoa” não se aplica a Deus, mas os escritores, ao se referirem a Deus, usam o termo “espírito” ou utiliza-se outros termos pessoais, como “Pai”, “Senhor” etc., e que o termo que corresponde a “pessoa”, empregado em relação a Deus, é uma figura de linguagem. O problema, no entanto, da “personalidade” de Deus, não diz respeito à decisão sobre se Deus é ou não uma pessoa, mas sim em como este entendimento exprimi a fé do cristão.

Muitas vezes limitamos nossas explicações em definições simplistas na perspectiva de que a pessoa que nos ouve irá compreender nossa mensagem. Para vários assuntos relacionados à nossa crença e, até sobre nossa fé. No entanto, me surpreendi ao ler o texto de Gustaf Aulén e o tratamento que deu sobre as características de Deus.

Após a leitura e reflexão deste texto, observei que não é a falta de entendimento ou conhecimento para explicar com profundidade as características de Deus, mas talvez o que realmente está distante de cada um de nós, seja a prática do amor cristão no nosso dia-a-dia.

Corremos de um lado para o outro, realizamos tantas coisas e quando precisamos demonstrar o amor, sentimos dificuldades. Assim, creio que o autor foi assertivo ao definir que o coração humano só pode ser conquistado mediante o poder do amor, e este amor, que está em nós, só está em nós, porque é dádiva de Deus.

Então, podemos crer que há finalidades nesta “doação”; para que amemos uns aos outros. Princípios básicos que ao longo dos anos, podemos deixar de lado. Por vezes mudamos nosso foco de atuação. Nossa atenção vai a extremos, e deixamos o mais simples para depois. Outras pessoas, por terem sido vítimas de desilusões, sentem dificuldades para expressar amor.

Certa vez, conversei com uma pessoa que dizia que não conseguia amar seu próprio neto. Como podemos, então, como crentes em Cristo, transpor essas dificuldades, muitas vezes presentes dentro das nossas próprias comunidades de fé? Para que possamos vencer esta batalha diária, uma suposição minha, é que precisamos ter humildade em nosso coração. Entender que temos limitações, das mais diversas, e que expressar amor, pode parecer algo simples na teoria, mas torna-se complexo quando posto em prática. Até onde devemos ir, na expressão de amor ao nosso próximo? Esta é outra questão delicada e que muitas vezes ouvimos respostas simplistas.

Mas, ao entendermos o amor divino, passamos a compreender que estamos ainda distantes de poder demonstrar nosso amor com mais propriedade e de forma mais natural possível. Segundo Gustaf, o amor é o poder soberano de todo o universo; não mais um poder, mas é O Poder! Como cristão, me senti desafiado a entender ainda mais esse amor de Deus.

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